SCB: Atos dos Apóstolos

Neste artigo constam as supostas contradições do livro de Mateus de acordo com o site cético A Bíblia do Cético Comentada bem como suas respectivas refutações.

Quantos crentes haviam na hora da ascensão?

Argumento

• Haviam quase 120 crentes depois da ascensão. [At 1:15]
• Haviam mais de 500 crentes antes da ascensão. [I Co 15:6]

Avaliação

Este argumento é resultado de má leitura, além de ter sido mal elaborado (ou mal traduzido) - note que a pergunta está se referindo à hora da ascensão [de Jesus], enquanto que as possíveis respostas referem-se a antes e a depois da ascenção.

A passagem de At 1:15 conta que havia aprox. 120 seguidores de Cristo, entre os quais os 11 discípulos e as Marias, que permaneceram fiéis a Cristo depois da sua ascenção, mantendo-se unidos e perserverando em oração e jejum até ao dia de Pentecostes, quando os mesmos 120 seguidores foram batisados com o Espírito Santo. A passagem jamais afirma que havia 120 seguidores na hora da ascenção.

Já a pasasgem de I Coríntios 15:6 apenas revela que, em dado momento após sua ressurreição, Jesus foi visto por mais de 500 irmãos, e isso não no momento da ascenção, mas antes.

Não há contradição; o que há é uma pergunta muito mal elaborada.

Devemos obedecer as leis dos homens ou a lei divina?

Argumento

• Devemos obedecer a lei de Deus em lugar das dos homens. [At 5:29]
• Devemos obedecer as leis dos homens. [Rm 13:1-2, I Pe 2:13]

Avaliação

O conflito todo está na omissão do contexto em que a passagem de At 5:29 está inserido.

No caso, a situação descrita em Atos é a de que os apóstolos, sabendo de sua missão vinda da parte do Senhor de que deveriam pregar o Evangelho, foram ordenados a ficarem calados com respeito a isso. Em outras palavras, uma "lei dos homens" entrou em conflito com a "lei de Deus" e, nesta questão, a lei de Deus possui a preferência, de acordo com aquilo que foi dito: "Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens." (At 5:29). Se, porventura, a lei dos homens não entra em conflito com as leis de Deus, então devem ser seguidas de acordo com as passagens de Romanos e I Pedro citadas. Como comenta Ryrie:

Os crentes devem ser cidadãos obedientes à lei. Se a lei de determinado governo viola a vontade revelada de Deus, então, é claro, o crente deve obedecer a Deus, embora talvez tenha que sofrer as penalidades das leis governamentais. Veja Rm 13:1-7 e Tt 3:1-2.

Os homens que estavam com Paulo ouviram a voz?

Argumento

• Sim, eles ouviram a voz. [At 9:7]
• Não, eles não ouviram a voz. [At 22:9]

Avaliação

O erro consiste, provavelmente, numa má interpretação forçada.

A passagem de Atos 9 está corretamente interpretada, sendo o erro presente na interpretação da segunda. Eis o que o texto diz:

• "Os seus companheiros de viagem pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo, ninguém."

- At 9:7

• "Os que estavam comigo viram a luz, sem, contudo, perceberem o sentido da voz de quem falava comigo."

- At 22:9

O texto deixa implícito que os guardas ouviram, sim, a voz, só não "perceberam o sentido" - o que pode significar que ouviram, como em outras passagens bíblicas (Jo 12:29), um relâmpago no lugar de voz (ou outro "efeito sonoro"), ou que ouviram frases desconexas (supondo que Jesus poderia estar a falar em línguas celestiais com Paulo, somente permitindo que este viesse a entendê-las porque era o caso).

Mulheres podem ser líderes da igreja?

Argumento

• Sim, elas podem. [At 18:26, Rm 16:1]
• Não, elas não podem. [I Co 14:34-35, I Tm 2:11-12]

Avaliação

Há uma confusão na argumentação devido a erros de interpretação (e talvez de leitura). Vejamos o que as passagens afirmam:

• "Ele, pois, começou a falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áqüila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus."

- At 18:26

• "Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia,"

- Rm 16:1

• "conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja."

- I Co 14:34-35

• "A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio."

- I Tm 2:11-12

Note que, em nenhum momento, algum dos versículos citados se referia a mulheres como líderes da igreja. A passagem de atos revela que Priscila era uma mulher devota ao Senhor a tal ponto que ajudava na instrução de alguns - no entanto, longe dos púlpitos -. Ja a passagem de Romanos, com relação à irmã Febe, apenas afirma que ela estava "servindo à igreja de Cencréia", o que de maneira afirma, necessariamente, que ela era líder da igreja - e há muitos serviços dentro de uma comunidade para serem executados além da liderança -. Em alguns momentos, todavia, a palavra "servindo" é traduzida para "diácono", o que levaria a crer que Febe fosse uma diaconisa da igreja de Cencréia . A palavra que é aqui traduzida por "servindo" é frequentemente traduzida por "diácono", o que tem levado alguns comentaristas a crer que Febe era uma diaconisa. É mais provável, todavia, que a palavra esteja sendo usada aqui num sentido não técnico, não oficial, como uma ajudante ou ajudadora. (...)</ref>. Ainda assim, no entanto, um diácono não é líder da igreja; apenas faz parte do grupo que a comanda, podendo ser hoje chamado de "staff".

Já a passagem de I Co pode estar muito relacionada aos costumes da época em si, pois a passagem deixa implícito que Paulo se referia aos momentos dos cultos, o que levaria a se supor que os cultos daquela época eram bem diferente dos de hoje - talvez fossem mais participativos, com os cristãos quase que debatendo sobre as Escrituras e contando livremente os testemunhos pessoais, apenas organizados por um líder. Assim, as mulheres não eram autorizadas a conversarem nestes momentos -. Já a passagem de I Tm é um pouco mais direta no que diz respeito a mulheres não ensinarem na igreja. Vale lembrar, no entanto, que um líder de uma igreja não necessariamente tem que ser pregador (e, portanto, ensine), apesar de que é isso que se verifica em quase todas (senão todas) as igrejas cristãs.