A probabilidade intrínseca de Deus diz respeito à probabilidade a priori de Deus existir.[1] Em outras palavras, ela responde à pergunta "quão provável é que Deus exista?" quando feita antes de se analisar as evidências; é a probabilidade de uma hipótese independente da evidência que se tenha para ou contra ela.[2]
Esse tema é de grande importância quando se trata não da veracidade de argumentos sobre a existência de Deus, mas da aceitabilidade das evidências para um indivíduo: alguém que toma a probabilidade de Deus existir como baixa antes mesmo de verificar as evidências provavelmente será mais cético com relação a estas (demandando uma confirmação mais forte) do que alguém que tem Deus como quase certamente existente diante da mesma situação. Isso é resultado do cálculo bayesiano de probabilidade, definido como:
onde a probabilidade intrínseca da hipótese se faz presente como .
Algumas pessoas como o filósofo Paul Draper também utilizam-se desse conceito para determinar sobre quem jaz o ônus da prova, sobre os teístas ou sobre os ateus.[3]
No âmbito de raciocínio indutivo, onde esta questão geralmente é tratada, os argumentos a priori (i.e. puramente lógicos e conceituais) são geralmente usados para justificar um ou outro posicionamento.
Visões[]
Probabilidade intrínseca de Deus |
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Igualmente provável |
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Provável |
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Improvável |
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Há pelo menos três posicionamentos quanto a questão da probabilidade intrínseca de Deus: a neutra, que ou afirma ser esta igual a (50%), ou que não estamos em posição de afirmar tal probabilidade; a positiva ou provável; e a negativa ou improvável.
Neutra[]
- O argumento da inexistência de probabilidade intrínseca de uma hipótese afirma que a noção de "probabilidade intrínseca" está errada ou é inexistente e, portanto, não é possível (e sequer faz sentido) calcular tal probabilidade.[2]
Provável[]
- Richard Swinburne defende que a simplicidade divina faz da hipótese de Deus uma intrinsecamente provável.[1]
- O argumento da falta de poder explanatório do naturalismo defende que enquanto o teísmo possui poder explanatório para uma série de coisas (e.g. a origem do universo enquanto criado por Deus), o naturalismo é insuficiente por si próprio para explicar as mesmas evidências, requerendo sempre a ajuda de uma hipótese, teoria ou visão "de suporte" para poder explicar aquilo que o teísmo explica sozinho. Isso parece ser ainda mais forte quando se contempla um caso cumulativo, i.e. de várias evidências, estas todas sendo explicáveis pelo teísmo apenas enquanto que a visão naturalista requereria várias explicações diferentes para responder aos mesmos fatos. Devido a essa falta de poder explanatório, se argumenta, o teísmo acaba sendo mais simples (ou modesto, na linguagem de Draper) já que é capaz de explicar uma grande variedade de coisas postulando-se uma única entidade, enquanto que o naturalismo não subsiste por si próprio, precisando apelar a pelo menos mais alguma coisa (e geralmente mais do que uma).
- Vários argumentos à priori, chamados desde Kant de "argumentos ontológicos", visam demonstrar que é necessário, i.e. há 100% de probabilidade de que Deus exista julgando-se apenas o próprio conceito "Deus".
Improvável[]
- A navalha de Occam é usada por alguns em defesa da improbabilidade intrínseca de Deus ou, mais precisamente, para a maior probabilidade intrínseca do naturalismo metafísico uma vez que uma hipótese que não postula nenhuma entidade seria mais simples do que uma que postula.[1]
- Os argumentos das propriedades incompatíves e os das propriedades incoerentes, devido à sua natureza a priorística, podem ser levantados como críticas não à existênica de Deus per se, mas à probabilidade intrínseca de sua existência.[1] Neste caso, o valor dessa seria igual a zero já que, se bem sucedidos, tais críticas demonstrariam a impossibilidade de Deus existir.
- O filósofo Michael Tooley defendeu que, dada a probabilidade igual entre a existência de vários possíveis conceitos de Deus (e.g. um ser onipotente, oniscience e perfeitamente bom versus um que é mal versus um que é moralmente neutro), a probabilidade de Deus é baixa (i.e. não superior a 1/3).[4]
Referências
- ↑ 1.0 1.1 1.2 1.3 God’s Intrinsic Probability (em inglês). Philosophy of Religion. Página visitada em 26 de novembro de 2010.
- ↑ 2.0 2.1 Briggs, William M. (30 de maio de 2014). There Is No Such Thing As Intrinsic Probability (em inglês). Página visitada em 4 de março de 2015.
- ↑ Draper, Paul. God and the burden of Proof (em inglês). Página visitada em 4 de março de 2015.
- ↑ Debate entre William Lane Craig (afirmativa) e Michael Tooley (negativa): "Is God Real?". Disponível aqui (em vídeo).
- West, Jonathan (31 de agosto de 2009). Swinburne: The Intrinsic Probability of Theism (em inglês). Confessions of a Skeptic. Página visitada em 4 de março de 2015.
- Czobel, Gabe (2010). An Analysis of Richard Swinburne's The Existence of God (em inglês). Internet Infidels. Página visitada em 4 de março de 2015.