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O paradoxo da onipotência (também chamado de problema da onipotência) é uma família de paradoxos que questionam a possibilidade da existência de um ser onipotente (normalmente o Deus abraâmico) frente aos problemas lógicos derivados deste atributo. O centro destes paradoxos jaz na definição de "onipotência" que, quando é entendido como o poder de fazer literalmente todas as coisas, passa a implicar uma série de problemas.

Um típico paradoxo da onipotência é a pergunta: "Se um ser onipotente pode todas as coisas, então pode este ser não poder todas as coisas?", pois se este ser não pode, não é onipotente, mas se pode, "onde está a sua onipotência?". O mais famoso dessa família de paradoxos é o da pedra, que questiona: "Pode Deus criar uma pedra tão pesada que Ele não possa levantar? Porque, se pode, então não é onipotente, pois não consegue levantá-la; mas se não pode criar tal pedra, então não é onipotente desde o princípio, uma vez que há algo que não pode fazer."

Apresentação[]

O problema da onipotência é um dos argumentos mais antigos contra a existência de Deus, tendo sido discutido por filósofos como Averróis.[1] Todavia, tais paradoxos podem ser aplicados em áreas não-teológicas, por exemplo, com o poder legislativo ou parlamentar, em que o órgão de poder deve ser onipotente e também ter a capacidade de se regular a si mesmo.[2]

Versões[]

O paradoxo da pedra é a versão mais famosa de problemas da onipotência. Concernente a este, J. L. Cowan, no seu livro "The Paradox of Omnipotence Revisited", faz a seguinte avaliação:[3]

  1. Ou Deus consegue ou não consegue criar a pedra que não é possível erguer.
  2. Se Deus consegue criar a pedra, não é omnipotente (já que não a consegue erguer).
  3. Se Deus não consegue criar a pedra não é omnipotente (pois não a consegue criar).
  4. Logo Deus não é omnipotente.

Uma outra forma de esquematizar o paradoxo da pedra é como segue:

  1. Deus é, por definição, onipotente.
  2. Logo, se não é possível que um ser onipotente exista, Deus não existe.
  3. Um ser é onipotente se e somente se ele é consegue fazer qualquer coisa.
  4. Ou um ser S consegue criar uma pedra que não é possível erguer ou não consegue.
  5. Se S consegue criar a pedra, então não é omnipotente, pois há algo que não consegue fazer - erguer a pedra.
  6. Se S não consegue criar a pedra, então ele também não é omnipotente, pois há algo que não consegue fazer - criar a pedra.
  7. Logo, não é possível um ser S ser onipotente; não é possível que um ser seja capaz de fazer qualquer coisa.
  8. Logo, Deus não existe.

Avaliação[]

Atualmente os paradoxos da onipotência aparentam estar em desuso pela comunidade não-teísta mais sofisticada. Por outro lado, parece inevitável considerar o impacto que tais paradoxos infringiram na compreensão teísta acerca de Deus; em quase qualquer material de teologia ou filosofia mais sofisticado, quase sempre há uma preocupação em se definir o termo à luz dessa crítica.

As respostas dadas ao problema podem ser divididas em dois grupos: aquelas que aceitam que Deus pode fazer tudo incluindo o que é logicamente impossível e as que aceitam que Deus só pode fazer as coisas logicamente concebíveis, a posição que a maioria dos filósofos defendem.[fonte?]

Deus é ilógico[]

A resposta mais incomum ao problema é a que assume que o significado de "onipotência" seja o poder para fazer "tudo, incluindo coisas ilógicas" (i.e. tem por correto a consideração inicial do paradoxo).[4] Tendo em René Descartes um de seus apoiadores,[4] isso significa que Deus não está restrito à seguir as regras da lógica e da matemática, mas está livre para fazer literalmente tudo o que se pode construir com palavras.

A vantagem desta posição é que dela segue que qualquer tentativa de negar a existência de Deus baseado na lógica, da mesma maneira como com o paradoxo da pedra, é completamente inútil; Deus está acima dessa lógica e pode ter todos os tipos de contradições em si e continuar existindo. Desta forma, tomando o paradoxo da pedra como exemplo, Deus pode criar uma pedra tão pesada que não pode levantar e também pode levantar tal pedra. A contradição evidente em tal alegação não pode ser considerada, já que Deus esta "acima da lógica" e pode fazer inclusive coisas ilógicas. Portanto, a posição de Descartes não é vulnerável aos paradoxos da onipotência como o da pedra.[4] Por outro lado, a suposição da possibilidade da "quebra" da lógica é tida como inaceitável pela maior parte dos pensadores.

Deus é lógico[]

Paradoxo da pedra1

Esquema sobre o "tudo" de acordo com o ponto de vista.

Por outro lado, filósofos como Tomás de Aquino argumentam que a onipotência de Deus não se aplica a literalmente todas as coisas sobre as quais podemos pronunciar,[4] e é nesta má compreensão do significado de "onipotência" que o paradoxo se forma.[5] De acordo com Aquino, Deus pode fazer todas as coisas possíveis, incluindo partir o mar vermelho, fazer Jesus ressuscitar entre outras, mas Deus não pode violar as leis da lógica e da matemática da maneira como Descartes aceitava, i.e. Deus não pode fazer coisas impossíveis do ponto de vista lógico.[4] A figura ao lado, elaborada por Martin Bittencourt, demonstra esta ideia partindo da alegação cristã tradicional de que "Deus pode fazer o impossível": tal alegação só possui um sentido real quando se tem por referência o ser humano. Neste caso, partir o Mar Vermelho pode ser algo tradicionalmente visto como impossível, quando na verdade somente é impossível para o ser humano. Um impossível objetivo (e que por isso englobaria Deus) seria, por exemplo, "partir o Mar Vermelho sem parti-lo".

A posição de Aquino também sobrevive aos paradoxos da onipotência como o da pedra. Neste caso, isso se deve porque o paradoxo é mal-formulado, já que considera a possibilidade de "uma pedra tão pesada que Deus não pode suportar", o que é impossível, já que Deus pode suportar todas as coisas. Desta forma, como a posição de Aquino é que Deus só pode fazer coisas possíveis, o paradoxo é refutado porque considera a possibilidade de execução de algo impossível: a criação de tal pedra.[4]

Lógica e existência[]

A questão da onipotência como poder para fazer tão somente coisas que não sejam lógica e matematicamente invioláveis levanta uma questão paralela sobre a relação da lógica com a realidade.

Filósofos como Richard Swinburne negam que Deus possa fazer coisas ilógicas porque "afirmações ilógicas não descrevem um real estado de coisas",[6] ou seja, uma sentença que apresente uma alegação que quebre a Lei da Contradição não passa de um aglomerado de palavras desprovido de sentido, pois não descrevem realmente algo - suas afirmações não descrevem algo que possa existir em algum mundo possível. Por isso, ao dizer coisas como "eu existo e não existo ao mesmo tempo" não significam nada; não passam de um aglomerado de palavras. No caso do paradoxo da pedra, a alegação ilógica é a consideração de "uma pedra que Deus não pode levantar", já que Deus notoriamente pode levantar qualquer pedra possível, ou seja, esta frase é equivalente a "uma pedra que Aquele que levanta todas as pedras não pode levantar".

Acerca dessa questão, C.S. Lewis, no seu livro "The Problem of Pain" (p. 18), sustenta que a natureza do paradoxo é inerente à sua construção, uma vez que "Não é limitativo do Seu poder. Se dissermos que Deus pode dar livre arbítrio a uma criatura, ao mesmo tempo que lho nega, não se conseguiu dizer nada acerca de Deus: um conjunto de palavras sem significado não passa a adquiri-lo apenas porque se juntou como prefixo «Deus consegue»". [7] Ou seja, "não porque o Seu poder encontre um obstáculo, mas porque um disparate mantém-se um disparate mesmo que seja referido invocando o nome de Deus".[8]

Os paradoxo de onipotência revelam a importância do pensamento crítico sobre o que se crê, uma vez que a falta de análises sobre esses pode levar as pessoas a acreditar nas mais diversas e absurdas coisas. O paradoxo da onipotência (representado nesta análise pelo da pedra) consiste num dos pensamentos críticos que ajudaram os cristãos e demais teístas a analisarem as interpretações demasiadamente ligerias sobre suas Escrituras, fazendo-os tomarem uma posição mais crítica sobre sua fé do que apenas aceitar "aquilo que o pastor/padre diz".

Referências

  1. Averróis. The Incoherence of the Incoherence. [S.l.]: Luzac & Company, 1969. p. 529–536. ISBN.
  2. Suber, P. (1990). The Paradox of Self-Amendment: A Study of Law, Logic, Omnipotence, and Change (em inglês). Peter Lang.
  3. Retirado de Paradoxo da onipotência na Wikipédia lusófona. Página acessada em 14 de maio de 2015 (link).
  4. 4.0 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 The Paradox of the Stone (em inglês). Existence of God. Página visitada em 30 de junho de 2010.
  5. Aquino, Tomás de. Summa Theologica Livro 1 Questão 25. [S.l.: s.n.]. ISBN.
  6. Swinburne, Richard. The Existence of God (em <Língua não reconhecida>). 2. ed. [S.l.]: Oxford University Press, 2004. ISBN 0199271682.
  7. Lewis, C. S.. O Problema do Sofrimento (em <Língua não reconhecida>). 1. ed. [S.l.]: Vida, 1940. ISBN 8573678518. "Isso não é algum limite ao Seu poder. Se você escolhe dizer "Deus pode dar a uma criatura o livre arbítrio e, ao mesmo tempo, abdicar-lhe o livre-arbítrio dela, você não sucedeu em dizer qualquer coisa sobre Deus: uma combinação sem sentido de palavras não adquire subitamente significado simplesmente porque nós prefixamos a elas as palavras "Deus pode"."
  8. Lewis, C. S.. O Problema do Sofrimento (em <Língua não reconhecida>). 1. ed. [S.l.]: Vida, 1940. ISBN 8573678518. "... não porque o Seu poder encontrou um obstáculo, mas porque bobagem permanece bobagem mesmo quando nós a falamos sobre Deus."
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