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O argumento de Paley consiste numa das versões mais famosas e abordadas do argumento teleológico que fundamenta-se sobre a inferência de design sobre objetos complexos e com objetivo específico projetados cuja origem conhecemos.

Apresentação e defesa[]

O argumento de Paley é muito conhecido por fazer uso da chamada analogia do relojoeiro. Esta analogia data de Cícero,[1] tendo sido também usada por, entre outros, Robert Hooke[2] e Voltaire,[1] mas ficou genuinamente famosa através da obra de Paley.

Seu argumento contém mais informação do que normalmente é apresentado pelos seus críticos, sobretudo na Internet. A essência do seu argumento, todavia, é a seguinte:[3]

Imagine que eu, ao atravessar um campo, acerte uma pedra com o pé, e me fosse perguntado como a pedra chegou ali. Eu poderia responder que, já que eu não sabia de nada contrário, ela deveria estar ali desde sempre; também não seria fácil provar que essa resposta é absurda. Porém imagine que eu tivesse encontrado um relógio no chão, e me perguntassem como o relógio foi parar ali. Dificilmente eu pensaria na resposta que eu dera antes, de que, até onde eu soubesse, o relógio devia ter estado ali sempre. Porém, por que essa resposta não serviria para o relógio tão bem como para a pedra? Por que ela não é admissível no segundo caso como no primeiro? Pela única e simples razão de que, quando no pomos a inspecionar o relógio, constatamos (o que não aconteceria no caso da pedra) que suas várias peças foram projetadas e reunidas como um propósito, ou seja, foram formadas e ajustadas para produzir movimento, movimento este regulado para indicar a hora do dia; que, se as diferentes peças fossem moldadas de modo diferente do que são, em tamanho diferente do que são, ou colocadas em outra posição ou em outra ordem, o mecanismo não faria nenhum movimento, ou não o faria com condições de atender ao uso a que se destina. Analisando algumas das peças mais simples e as suas funções, vemos que todas objetivam o mesmo resultado; vemos um recipiente cilíndrico que contém uma mola comprimida que, em seu esforço para soltar-se, move-se dentro do recipiente. Em seguida vemos uma corrente flexível (entrelaçada artificialmente para flexionar-se) transmitindo a ação da mola do recipiente para o fuso. Depois vemos uma série de rodas, cujos dentes se encaixam e agem uns nos outros, conduzindo o movimento do fuso para o balancim e do balancim para o ponteiro; ao mesmo tempo, pelo tamanho e forma dessas rodas, o movimento é regulado de tal forma que avança de modo igual e mensurável, a ponto de passar por dado espaço em determinado tempo. Observamos que as rodas são feitas de latão para que não enferrujem; a mola é de aço, pois nenhum outro metal é tão elástico; sobre o mostrador do relógio há uma lâmina de vidro, material que não existe em nenhuma outra parte do artefato, porém, por ser transparente, permite que se vejam as horas sem abrir o recipiente. Observando esse mecanismo (isso realmente exige uma análise do instrumento com algum conhecimento de causa, para entender e compreendê-lo, mas tendo nós feito isso), pensamos que a inferência é inevitável: o relógio deve ter sido feito por alguém que deve ter existido em dado momento, em um lugar ou outro, um ou mais artífices que o construíram com o propósito que vimos que agora cumpre, que entendem da sua montagem e projetaram seu uso.

Crítica e objeções[]

Muito embora a crítica ao argumento de Paley seja grande nos círculos filósoficos de baixo nível e em especial sobre os defensores da teoria da evolução de Charles Darwin, o argumento aparenta merecer muito mais crédito do que lhe é dado. As duas refutações tradicionalmente apresentadas consistem no apontamento ao trabalho do cético escocês David Hume acerca de argumentos teleológicos e à teoria da evolução.

David Hume e o argumento teleológico[]

Ver artigo principal: Hume e o argumento teleológico
Veja também: David Hume


Teoria da evolução[]

Veja também: Teoria da evolução e Evidências da evolução

Diferente da crítica de Hume, a objeção baseada na teoria da evolução de Charles Darwin concentra na inferência de projeto baseado na complexidade da vida. O problema, alega a objeção, é que se a evolução por seleção natural ocorreu, então esta é que é a responsável pela existência da complexidade de vida, não a existência de um Deus (mesmo que Ele exista e tenha sido o autor da evolução). Como, conclui-se, a evolução ocorreu, então a complexidade é fruto dela e não das mãos de Deus, de modo que mesmo que inferir um Criador para os seres vivos através da evolução é plausível, basear a existência de tal Criador na complexidade da vida é inadmissível, já que esta é consequência da evolução, não de design. Esquematicamente, a objeção seria da seguinte maneira:

  1. Existe complexidade na vida que requer uma explicação.
  2. A complexidade pode ser a consequência de design ou de evolução.
    1. Sabemos, por nossa experiência diária, que uma mente inteligente é uma boa explicação para a ocorrência de complexidade. Observamos isso na analogia do relojoeiro.
    2. A evolução é capaz de produzir complexidade através da seleção natural.
  3. Se a evolução foi a causa da complexidade, então não há como inferir que a complexidade é produto de design.
  4. A evolução ocorreu.
  5. Logo, a evolução foi a responsável pela presença de complexidade na vida, não design.
  6. Conclusão: até pode haver um Designer (Deus), mas não há como inferir sua existência com base na complexidade da vida biológica.


Evolução[]

Basicamente quatro respostas podem ser levantadas com relação à objeção da evolução, sendo elas:

  1. Não é uma verdade objetiva e de aceitação global que a evolução ocorreu, e isso ocorre por bons motivos;
  2. Questiona-se cientificamente o poder da evolução de produzir complexidade;
  3. Pode haver tipos de complexidade que a evolução seja naturalmente incapaz de explicar (como a complexidade irredutível); e
  4. se unirmos à complexidade a um padrão previamente esperado (complexidade especificada), então ela continua sendo evidência de design mesmo que tenha vindo por evolução.

Por fim, ainda pode-se argumentar que esta objeção comete a falácia de petição de princípio.

Evolução realmente ocorreu[]

Muitas pessoas questionam se a evolução de fato ocorreu, e nem todas o fazem por motivos religiosos, mas muitas vezes por científicos e filosóficos.

Produção de complexidade[]

O cerne da resposta da evolução diz respeito à sua capacidade de "produzir" complexidade. O problema é que há muito ceticismo por parte de alguns indivíduos, incluindo pessoas ligadas à ciência, a respeito da real capacidade da evolução em produzir esta complexidade.

Experiências científicas passadas descobriram empiricamente que a evolução parece ter uma "barreira" que impede com que os seres vivos ultrapassem um certo número de modificações, de modo que uma espécie, muito embora possa desenvolver algumas características, nunca chega a modificar-se significativamente.[4][5] Em outras palavras, muito embora os mecanismos evolutivos para a macroevolução existirem e funcionarem, não existe comprovação científica de que eles ultrapassam essa "barreira invisível" e consigam efetuar a macroevoluão. Todavia, estes dados implicam que a evolução não é capaz de produzir ou desenvolver complexidade, mas indicam que ela só é capaz de modificar um nível de complexidade já existente.

Petição de princípio[]

Um problema menos importante é que muitos cristãos/teístas alegam que a teoria evolutiva é um princípio ateísta incompatível com o teísmo (a maioria dos quais são criacionistas da terra jovem). Em outras palavras, na visão destes indivíduos somente aqueles que já negam a existência de Deus são capazes de defender a ocorrência da evolução, o que leva a objeção a fundamentar-se sobre uma petição de princípio: só alguém que já é não-teísta pode aceitar esta objeção.

Outras respostas podem ser levantadas contra esta teoria, mas sua força não abrangeria o argumento de Paley.

Notas

Referências

  1. 1.0 1.1 Retirado de Teleological argument na Wikipédia anglófona. Página acessada em 3 de julho de 2010.
  2. Hooke, Robert. Micrographia (em <Língua não reconhecida>). [S.l.]: Courier Dover Publications, 2003. p. 2. ISBN 978-0486495644.
  3. Paley, William. Natural Theology (em <Língua não reconhecida>). [S.l.: s.n.]. 3-4 pp. ISBN 1930585217.
  4. Fruit Flies Speak Up (em inglês). Creation-Evolution Encyclopedia. Página visitada em 3 de julho de 2010.
  5. The Three Evolutionary Mechanisms (em inglês). Creation-Evolution Encyclopedia. Página visitada em 3 de julho de 2010.


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