O argumento do grau (ou os graus de perfeição) é um argumento para a existência de Deus defendido entre outros por Tomás de Aquino como a sua Quarta Via.[1] Segundo Robert J. Schihl, o argumento pode ser resumido da seguinte maneira:[2]
- Objetos têm propriedades em maior ou menor grau.
- Se um objeto tem uma propriedade em menor grau, então existe algum outro objeto que tem a propriedade no grau máximo possível.
- Portanto, há uma entidade que tem todas as propriedades no grau máximo possível.
- Logo Deus existe.
Apresentação e defesa[]
A formulação original de Aquino é como segue:[3]
A quarta prova surge a partir dos graus que são encontrados nas coisas. Pois é encontrado um maior e um menor grau de bondade, verdade, nobreza, e similares. Mas mais ou menos são termos falados de várias coisas quando eles se aproximam de diversas maneiras em direção a algo que é o maior, assim como no caso do mais quente que se aproxima mais perto do maior calor. Existe, portanto, algo que é o mais verdadeiro, e o melhor, e o mais nobre e, em conseqüência, o maior ser. Pois o que são as maiores verdades são os maiores seres, como é dito em Metafísica Bk. II. 2. O que é, aliás, o maior na sua maneira, de outra maneira é a causa de todas as coisas do seu próprio tipo (ou gênero); assim o fogo, que é o maior calor, é a causa de todo o calor, como se diz no mesmo livro (cf. Platão e Aristóteles). Portanto existe algo que é a causa da existência de todas as coisas e da bondade e de toda a perfeição que seja - e isto nós chamamos de Deus.
O filósofo cristão Peter Kreeft defende o mesmo argumento da seguinte maneira:[4]
Nós notamos ao redor de nós coisas que variam de determinadas maneiras. A intensidade da cor, por exemplo, pode ser mais clara ou mais escura do que outra, uma torta de maçã recentemente cozida é mais quente do que uma tirada do forno horas antes; a vida de uma pessoa que dá e recebe amor é melhor do que a vida de alguém que não dá e nem recebe.Assim nós organizamos algumas coisas em termos de mais e menos. E quando nós o fazemos, nós naturalmente pensamos deles em uma escala aproximando-se mais e menos. Por exemplo, nós pensamos do mais claro como aproximando-se do brilho do branco puro, e do mais escuro como se aproximando da opacidade de um breu. Isso significa que nós pensamos deles em várias "distâncias" dos extremos, e como possuindo, em graus de "mais" ou "menos", o que os extremos possuem em plena medida.
Às vezes é a distância literal de um extremo que faz toda a diferença entre "mais" e "menos". Por exemplo, as coisas são mais ou menos quentes quando elas são mais ou menos distantes de uma fonte de calor. A fonte comunica àquelas coisas a qualidade de calor que elas possuem em maior ou menor medida. Isto significa que o grau de calor que eles possuem é causada por uma fonte fora deles.
Agora, quando pensamos na bondade das coisas, parte do que queremos dizer relaciona-se com o que elas são simplesmente como seres. Nós acreditamos, por exemplo, que uma forma de ser relativamente estável e permanente é melhor do que uma que é fugaz e precária. Por quê? Porque nós apreendemos a nível profundo (mas nem sempre consciente) que ser é a fonte e a condição de todo o valor; finalmente e ultimamente, ser é melhor do que não-ser. E assim nós reconhecemos a superioridade inerente de todos aqueles modos de ser que expandem as possibilidades, nos libertam dos limites constritivos da matéria, e nos permite compartilhar, enriquecer e ser enriquecido pelo ser de outras coisas. Em outras palavras, todos nós reconhecemos que ser inteligente é melhor do que ser não-inteligente; que um ser capaz de dar e receber amor é melhor do que um que não pode; que o nosso modo de ser é melhor, mais rico e mais completo do que o de uma pedra, uma flor, uma minhoca, uma formiga, ou até mesmo uma foca bebê.
Mas se estes graus de perfeição pertencem a ser e ser é causado em criaturas finitas, então deve haver um "melhor", uma fonte e padrão real de todas as perfeições que reconhecemos que pertencem a nós como seres.
Este ser absolutamente perfeito - o "Ser de todos os seres", "a Perfeição de todas as perfeições" - é Deus.
Avaliação[]
Embora um argumento clássico em se tratando de parte das Cinco Vias de Tomás de Aquino e ainda defedido por alguns teístas, tais como Peter Kreeft, o argumento parece não ter muita aceitação entre pensadores contemporâneos em ambos os lados do debate sobre a existência de Deus.
Referências
- ↑ Retirado de Argument from degree na Wikipédia anglófona. Página acessada em 12 de maio de 2015 (link).
- ↑ Link (morto)
- ↑ Halsall, Paul (maio de 1998). Medieval Sourcebook: Thomas Aquinas: Reasons in Proof of the Existence of God, 1270 (em inglês). Internet History Sourcebook Project. Página visitada em 12 de maio de 2015.
- ↑ Kreeft, Peter J.. The Argument from Degrees of Perfection (em inglês). The Official Peter Kreeft Site[1]. Página visitada em 2 de janeiro de 2011.
- Argument from degree (em inglês). Iron Chariots Wiki. Página visitada em 12 de maio de 2015.
- Henderson, James R.. The Argument from Degrees of Perfection: Less Than Perfect (em inglês). The Secular Web. Página visitada em 12 de maio de 2015.
- Tychonievich, William James (20 de junho de 2012). The Argument from Degrees of Perfection (em inglês). Boisterous Beholding. Página visitada em 12 de maio de 2015.
- Ulatowski, Joseph (4 de fevereiro de 2007). Aquinas’s Fourth Way (em inglês). Praeter Necessitatem. Página visitada em 12 de maio de 2015.
- Philosophy 102: Introduction to Philosophical Inquiry - Aquinas' Argument from Gradation (em inglês). Página visitada em 12 de maio de 2015.
- Dawkins's rebuttal to Aquinas's “The Argument from Degree”? (em inglês). Stack Exchange Philosophy Forum. Página visitada em 12 de maio de 2015.