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O argumento das religiões más (ou argumento do mal feito pelas religiões) é um argumento evidencial indutivo, normalmente apresentado mais como uma objeção ao teísmo do que como um argumento, que visa demonstrar a improbabilidade da existência de Deus tendo em vista os males praticados pelas diversas religiões do mundo. O argumento pode tomar duas conclusões: uma alega que, "se um Deus existe, então ele tem muito o que responder" por permitir que as religiões sejam más - ou, caso uma das religiões ditas más seja a religião verdadeira desse Deus, por ter criado tal religião - e a outra que a existência da maldade nas religiões é evidência de que nenhuma é verdadeira (partindo do pressuposto de que um Deus que criaria uma religião a criaria moralmente correta) e talvez até de que nem mesmo Deus sequer existe - nesse caso, o argumento tornaria a ser uma versão do problema do mal.

Na tentativa de demonstrar que as religiões são más, os utilizadores deste argumento normalmente colocam em discussão acontecimentos históricos, usualmente aceitos como sendo maus, que, alegam, teriam ocorrido por causas religiosas, como os atentados ao World Trade Center em 2001.

Entre os defensores modernos deste argumento encontram-se Christopher Hitchens.[fonte?]

Avaliação[]

A comunidade teísta rejeita o argumento como sendo falso por um conjunto de razões.

Falta de evidências[]

Em primeiro lugar, observa-se que as evidências apontadas não sustentam a conclusão pretendida. Enquanto que a última normalmente consiste em alegar que "as religiões são más" - uma alegação que requer que seja demonstrado que todas as religiões são assim -, as primeiras representam apenas algumas religiões (normalmente as abraâmicas), sendo que não se pode concluir, por nenhuma lei da lógica, que porque algumas religiões são más, então todas são. Dessa forma, as evidências tradicionalmente apresentadas nunca são capazes de sustentar a conclusão pretendida, e o argumento falha logo em sua apresentação.

Uma possível tentativa de salvar este argumento com base num raciocínio indutivo (alegando indutivamente que todas as religiões são más com base num maior número de religiões assim) também falha, pois a idéia de que Deus se revelou ao mundo através de uma religião não implica que Ele tenha usado mais de uma religião para tal; antes, se Deus de fato se revelou ao mundo, é mais provável e coerente de se supor que Ele o fez através de uma única religião e não de várias maneiras através de várias religiões. Logo, se for demonstrado que ao menos uma religião é boa e possui os traços de ter sido uma revelação divina (i.e. demonstrar que uma religião como o Budismo é boa seria ineficaz, pois o Budismo é uma religião ateísta), o valor deste raciocínio cai. Como até hoje nunca foi demonstrado que o Cristianismo é uma reliigão má apesar de quase dois mil anos de ataques e ele possui os traços de ser uma possível revelação divina, tem-se que a alegação contida nesta parte do argumento falha.

Em última instância, estas observações revelam o problema de generalização presente neste argumento.

Relação entre religioso e religião[]

Em segundo lugar, as evidências são normalmente apresentadas com base na ação de indivíduos que se dizem membros de uma determinada religião ao invés de fundamentar-se sobre os ensinos da própria. Neste caso, o argumento entra na falaciosa alegação de relacionar uma religião com seu suposto praticamente com vistas em suas ações independente da relação realmente existente entre as ações e a religião. Isso significa que está-se acusando as religiões de serem más porque indivíduos que supostamente fazem parte delas estão praticando ações más, ignorando-se totalmente a possibilidade (em certos casos, como no Cristianismo, a realidade) de não haver ligação inspiratória ou causal entre a religião e a ação do praticante. A única maneira de se inferir um mal numa religião com base na ação de um de seus alegados membros é caso tal ação tenha vindo como consequência da prática daquela religião. Nesse sentido, os seguidores do antigo deus Moloque, que matavam recém-nascidos em oferenda ao deus, tornavam sua religião má com tal ação porque esta vinha diretamente da religião. Por outro lado, não há nenhuma culpa por parte do Cristianismo pelo que foi feito, por exemplo, pela Igreja Católica durante as Cruzadas já que tais eventos foram feitos totalmente à parte dos ensinos cristãos - na prática, justamente contradizendo-os.

Más evidências[]

Em terceiro lugar, observa-se que muitas das ditas "evidências" da maldade das religiões são falsas. Muitos dos eventos alegados como tendo ocorrido por causas religiosas ocorreram na verdade por outras causas, na maioria dos casos política ou de terra.[1] O exemplo das Torres Gêmeas testifica isso, uma vez que é sabido, por análise histórica, que os atentados islâmicos nos EUA é um reflexo das más jogadas políticas deste país no Oriente Médio, não de alguma luta religiosa - tanto é que os mesmos islâmicos atacam a Inglaterra e a França, outros dois países que também possuem um mau histórico político em relação ao Oriente, ao invés de atacar outros tantos países que, em teoria, são muito mais "inimigos" do Islamismo, como os países europeus de maioria ateísta. Semelhantemente a Inquisição, muito embora tenha sido proclamada sob alegações religiosas, foi muito mais provavelmente uma tentativa desesperada da Igreja Católica da época de impedir, com o decréscimo do número de fiéis, a perda da soberania e influência política que ela exercia sobre os países europeus na época.

Ausência de lógica[]

Finalmente, não há ligação lógica entre a premissa "todas as religiões são más" e "Deus não existe". Na prática, a conclusão de que alguma religião é má não afeta, em princípio, nenhuma de suas alegações teológicas - assim como um ateu ter assassinado alguém não implica que o ateísmo está errado na sua alegação da inexistência de Deus. Dessa forma, mesmo que o argumento passasse ileso por todas as objeções anteriores e fosse definitivamente demonstrado que há uma dada religião má, isso ainda assim não significaria que Deus não existe, ou que a doutrina de expiação dos pecados por Jesus é falsa, etc.; o argumento de forma alguma sustenta o ateísmo.

Já com relação à uma "culpa" da parte de um dado Deus de ter permitido ou mesmo criado uma destas religiões alegadamente más, observa-se que há várias premissas assumidas como verdadeiras e que não só podem estar erradas, como em alguns casos provalvemente estão erradas.

Uma dessas premissas é a alegação de que a nossa moralidade é a mesma que a moralidade de Deus caso ele exista. Em outras palavras, caso fosse demonstrado que uma dada religião criada por Deus fosse má aos nossos olhos, i.e. segundo a nossa compreensão de moralidade, isso não significaria que Deus não poderia ter criado tal religião ou que Ele tenha sido mal em tê-lo feito, pelo simples fato de que, aos olhos dele, os ensinos e ações de caráter moral daquela religião por ele criada podem ser complamente bons - e, nesse caso, a nossa visão de moralidade é que esta com problemas. Mais do que isso, o fato de que, se Deus existe, então Ele não só é a base, o fundamento de toda a moralidade, como também é onisciente e infalível (perfeito), implica necessariamente que, se Deus criou uma religião com dados ensinamentos morais, então estes ensinamentos morais são obrigatoriamente os verdadeiros - foi Deus, o fundamento da moral, quem disse! - , jamais o que qualquer ser humano pense sobre a questão caso esse pensamento seja diferente.

Outros[]

Outra coisa que se assume é a alegação de que Deus possui algum compromisso moral com a humanidade, esquecendo-se que, caso algumas doutrinas do Cristianismo estejam corretas (i.e., em tratando-se do Deus cristão), as ações morais de Deus para conosco são baseados em graça - favor não-merecido -, não em alguma obrigatoriedade vinda da natureza benevolente de Deus. Por causa dos nossos pecados, Deus poderia colocar o mundo na pior das situações e não estaria sendo mal; antes, perfeitamente justo, e portanto alguma dita "imoralidade" vindo da parte de Deus seria perfeitamente explicada e aceitável. (Observa-se que, no que diz respeito aos mandamentos morais, tal apologética não serviria.)

Referências

  1. The Great Debate: [1]


Argumentos contra o Teísmo
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