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O argumento das afirmações científicas erradas na Bíblia é um argumento contra a credibilidade, inerrância e inspiração divina da Bíblia baseado na alegação de que esta contém afirmações demonstradas como falsas pela ciência moderna. Embora várias variantes deste argumento podem ser criadas (cada qual considerando um "erro científico" em específico), esse argumento pode ser resumido da seguinte maneira:

  1. Se a Bíblia é inerrante (ou plenamente crível ou divinamente inspirada), então ela não contém erros.
  2. A ciência demonstrou que a Bíblia contém erros.
  3. Logo, a Bíblia não é inerrante (ou plenamente crível ou divinamente inspirada).

Uma outra maneira de esquematizá-lo, dessa vez com ênfase em algum dos erros científicos, é como segue:

  1. Se a Bíblia é inerrante (ou plenamente crível ou divinamente inspirada), então ela não contém erros.
  2. A Bíblia afirma que P é verdade.
  3. Logo, se a Bíblia é inerrante (ou plenamente crível ou divinamente inspirada), então P é verdade.
  4. A ciência demonstrou que P não é verdade.
  5. Logo, a Bíblia não é inerrante (ou plenamente crível ou divinamente inspirada).

Embora bem incomum, este argumento poderia ser transformado num contra a existência de Deus adicionando-se um conjunto de premissas como:

  1. Se Deus existe, então Ele é o autor da Bíblia.
  2. Se Deus é o autor da Bíblia, então a Bíblia é inerrante (ou plenamente crível ou divinamente inspirada), então ela não contém erros.

Neste caso, ele ficaria em linha com alguns argumentos que atacam a existência de Deus à partir de considerações de passagens bíblicas onde defende-se que Ele foi o responsável por ações imorais.

Exemplos de erros científicos na Bíblia seriam:

  1. Erro na anatomia dos insetos;[1][2]
  2. A afirmação de que o grão de mostarda é a menor semente;[1]
  3. O valor matemático do número pi;[1]
  4. Erros de astronomia como a noção de um "firmamento";[1]

Avaliação[]

As diversas versões deste argumento apresentam uma série de problemas segundo a lista abaixo.

Questões pertinentes à inerrância[]

O argumento deixa em aberto a possibilidade de que más entendimentos da doutrinda da inerrância bíblica bem como da sua inspiração divina sejam utilizados na fundamentação da primeira premissa, erros que poderiam invalidar o argumento enquanto a um ataque a estas. Por exemplo, a doutrina da inerrância bíblica pode ser definida como a doutrina segundo a qual "tudo o que a Bíblia afirma ser verdade é verdade, e tudo o que ela afirma ser falsidade é falsidade". No entanto, muitas pessoas a entendem como simplesmente afirmando que "tudo o que a Bíblia diz é verdade". Essa confusão pode levar a pessoa a assumir que um determinado trecho da Bíblia, que é realmente falso, compromete a sua inerrância, quando a Bíblia nunca defendeu que aquele trecho era realmente verdadeiro. Algo similar pode ocorrer com a doutrina da inspiração divina: se for considerado uma "mecânica" similar àquela atribuída ao Corão pelos muçulmanos, então alguns trechos da Bíblia poderiam ser tidos como errôneos quando, ao adimitir-se uma doutrina mais flexível, o problema pode não se fazer mais presente.

Erro de interpretação[]

Algumas dos alegados "ensinamentos errôneos da Bíblia" podem ser fruto de interpretação questionável automaticamente não sendo válidos para aqueles que discordam daquele entendimento. Por exemplo, muitos criacionistas da terra jovem defendem que Gênesis 1 ensina uma criação recente da Terra e do Universo em seis dias consecutivos de vinte e quatro horas. Alguém, então, poderia apontar isso como um "erro científico que a Bíblia defende" confundindo o que a Bíblia ensina com aquilo que os criacionistas da Terra jovem entendem. Esse seria um caso em que todos os demais cristãos rejeitaram o argumento simplesmente alegando que não é verdade que a Bíblia defenda uma criação recente da Terra.

Equivalência entre ciência e naturalismo metafísico[]

Algumas das críticas apresentando alegados erros científicos da Bíblia não passam de afirmações que pressupõem a veracidade do naturalismo metafísico, equacionando-o com os achados da ciência. Esse é o caso de quando relatos de milagres são tidos como "erros científicos".[3]

Demonstração científica[]

Outro problema diz respeito à questão quanto se realmente os trabalhos científicos demonstraram que algo é verdadeiro ou falso. Certas pesquisas podem ter sido mal feitas ou serem simplesmente inválidas para defender uma tese seja pela natureza da questão, por causa dos próprios procedimentos científicos (e.g. uso do naturalismo metodológico) ou por outra razão. Neste caso, defender que os cientistas concluiram alguma coisa e automaticamente admitir-se aquilo como um fato seria inapropriado. Um caso de exemplo seria quanto à eficácia das orações. Alguém poderia defender a seguinte versão do argumento:

  1. Se a Bíblia é inerrante (ou plenamente crível ou divinamente inspirada), então ela não contém erros.
  2. A Bíblia afirma que orações a Deus são eficazes: se pessoas orassem a Deus para que outras fossem curadas, isso ocorreria.
  3. Logo, se a Bíblia é inerrante (ou plenamente crível ou divinamente inspirada), então as orações a Deus são eficazes.
  4. A ciência demonstrou que as orações a Deus não são eficazes.
  5. Logo, a Bíblia não é inerrante (ou plenamente crível ou divinamente inspirada).

Este exemplo falharia justamente porque as pesquisas científicas quanto à validade das orações são inválidas pela simples natureza da situação (i.e. contam com a atuação de um agente dotado de livre-arbítrio, não levam em considração as condições para eficácia da oração como a fé dos oradores, etc.).

Superior credibilidade da ciência[]

Estes argumentos também assumem, sem aparente justificativa, que pesquisas científicas, ainda que mal feitas e cheia de problemas (item anterior), "garantem" a veracidade de alguma tese. Todavia, isso não é verdade. A ciência trabalha com raciocínio indutivo onde a veracidade de uma tese não é apenas não garantida, como também pode mudar radicalmente ao considerar-se outros dados não considerados. Neste caso, alguém poderia propôr um contra-argumento defendendo a inspiração divina ou inerrância da Bíblia que fosse mais forte que a validade das pesquisas científicas, por consequência levando à rejeição dos resultados destas. Neste caso, o avaliador deveria decidir quanto ao argumento que parece ser mais forte: aquele que defende a veracidade ou falsidade de uma tese em contraste com o ensino das Escrituras ou aqueles que defendem a sua credibilidade.

Referências

  1. 1.0 1.1 1.2 1.3 Biblical scientific errors (em inglês). Iron Chariots Wiki. Página visitada em 05 de junho de 2015.
  2. Scientific inaccuracies in the Bible (em inglês). Iron Chariots Wiki. Página visitada em 05 de junho de 2015.
  3. Vários exemplos desses casos aqui: Quora: What are the scientific errors in the Bible? (em inglês). Página visitada em 05 de junho de 2015.


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