Argumento da sintonia fina |
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O argumento da sintonia fina (ou das constantes físicas[1]) é um argumento para a existência de Deus da categoria dos argumentos teleológicos que defende a veracidade do teísmo a partir da sintonia fina aparentemente existente entre várias constantes e quantidades do universo. Não sendo apropriadamente explicada por nenhuma das alternativas conhecidas, acaso ou necessidade física, o argumento conclui que a hipótese remanescente, design, deve ser a correta implicando na existência de "Designer Inteligente", Deus.
Exposição[]
- Ver artigo principal: Argumento da sintonia fina/Defesa
O argumento pode ser exposto de várias maneiras.
Versão de William Craig[]
Em seu debate com o químico Peter Atkins, o filósofo e teólogo William Lane Craig o expôs da seguinte maneira:[2]
Durante os últimos 30 anos, cientistas têm descoberto que a existência de vida inteligente depende de um balanço delicado e complexo de condições iniciais simplesmente dados no próprio Big Bang. Nós agora sabemos que universos que impedem a existência de vida são vastamente mais prováveis do que um universo que permite a vida como o nosso. Quanto mais provável? A resposta é que a chances de que o Universo deveria permitir a vida é tão infinitesimal que é incalculável e incompreensível. Por exemplo, Stephen Hawkins estimou que se a taxa de expansão do Universo tivesse sido menor mesmo em uma parte em 100.000.000.000[nota 1], o Universo teria entrado em colapso em uma grande "bola de fogo". Brandon [...] calculou que as chances contra as condições iniciais serem satisfatórias para a formação de estrelas, sem as quais os planetas não existiram, é de 1 seguido de mil bilhões de bilhões de zeros[nota 2] pelo menos. P.C.W. David estimou que uma mudança na força da gravidade, ou na força fraca, em apenas uma parte em 10 elevado à 100º potência teria impedido um universo que permita vida. Existem cerca de 50 destas constantes e quantidades presentes no Big Bang que precisam ser finamente sintonizadas para que o Universo permita a vida. Então improbabilidade é multiplicada por improbabilidade, por improbabilidade até a nossa mente estar realmente em números incompreensíveis. Não há uma razão física porque estas constantes e quantidades possuem os valores que eles têm. Paul Davis, um físico ex-agnóstico, comenta: "através do meu trabalho científico eu vim a acreditar mais e mais fortemente que o universo físico é posto conjuntamente com uma engenharia tão deslumbrante que eu não posso aceitar meramente com um fato bruto." Similarmente, Fred Hoyle marca: "uma intepretação de senso-comum dos fatos sugere que uma Super Intelecto tem uma ligação com a física", e Robert Jastrow, o cabeça da NASA Instituto Governamental para Estudos do Espaço, chamou isso de "o argumento mais poderoso para a existência de Deus jamais vindo da ciência".
A formulação proposta por Craig mencionada acima é como segue:
- A fina sintonia das condições inicias do universo é devida a: lei natural, chance ou Design.
- Não é devido nem a lei ou chance.
- Logo, é devido a Design.
Segundo Craig, "necessidade física significaria dizer que o Universo tinha que ser daquela maneira; ele precisa ser finamente sintonizado".[3] Segundo Craig, todavia, isso seria muito implausível porque estas constantes e quantidades sintonizadas das quais estamos falando são independentes das leis da natureza; elas não são determinadas pelas leis da natureza. Elas são arbitrárias, colocadas no começo inexplicavelmente. Logo, não são fisicamente necessárias.[3] Este ponto pode ser organizado da seguinte maneira:
- A fina sintonia do universo pode ser resultado de necessidade física.
- Ser resultado de necessidade física implicaria na sintonia fina ser dependente de leis da natureza.
- Todavia, a sintonia fina é independente das leis da natureza; tratam-se de constantes e quantidades puramente arbitrárias.
- Logo, a sintonia fina do universo não é devido à necessidade física.
Além da possibilidade de necessidade física, alguém poderia argumentar que é apenas obra do acaso.[3] Segundo Criag, o problema desta alternativa é que ela revela a falta de conhecimento da fantástica chance da qual se está falando em tratar-se do argumento da sintonia fina.[3] Uma vez que se constata a improbabilidade de que a sintonia fina do universo tenha vindo por chance, conclui-se que a idéia de que isto ocorreu por obra do acaso, apenas por chance, é infinitesimalmente pequena.[3] A conclusão que se tira disso é que torna-se um tanto estupidez, da parte de um indivíduo, preferir defender a hipótese de chance à hipótese de Design, ainda mais quando uma das três hipóteses já foi anteriormente refutada, i.e. quando a analise adquiriu a característica de afunilamento na direção da hipótese de design.
Versão completa[]
Baseado na defesa de W. L. Craig, é possível construir-se um esquema contendo todo o argumento em ordem:
- Existe uma sintonia fina de quantidades e constantes presentes no Universo.
- Sem esta sintonia fina, a vida não seria possível.
- Se houvesse a mudança de apenas uma destas constantes ou quantias em dado nível específico, ou
- o Universo não existira; ou
- a vida não existira; ou
- a vida na Terra não existira.
- A presença desta sintonia fina entre quantidades e constantes presentes no Universo demanda uma explicação, isto é, um motivo pelo qual é assim e não de outra forma.
- A sintonia fina das condições inicias do universo é devida a: lei natural, chance ou Design.
- Não é devido a lei.
- A fina sintonia do universo pode ser resultado de necessidade física.
- Ser resultado de necessidade física implicaria na sintonia fina ser dependente de leis da natureza.
- Todavia, a sintonia fina é independente das leis da natureza; tratam-se de constantes e quantidades puramente arbitrárias.
- Logo, a sintonia fina do universo não é devido à necessidade física.
- Não é devido a chance.
- Logo, é devido a Design.
Avaliação[]
- Ver artigo principal: Argumento da sintonia fina/Crítica
Assim como ocorre com os demais argumentos à favor da existência de Deus, o argumento da sintonia fina vem sendo alvo de críticas e objeções. Dentre as mais populares respostas, a refutão que propõe a existência de um multiverso é a que vem ganhando maior destaque e isso não apenas da parte de filósofos ateus, mas sobretudo entre os físicos que destacam essa proposta, no contexto de hipótese científica, como uma possibilidade legítima e considerável.
Segundo a crítica do multiverso, é possível que vários universos além do nosso existam, cada um tendo suas constantes ajustadas de maneira diferente. Uma vez que tais vários universos existissem, a ocorrência de um que fosse capaz de sustentar a existência de vida não seria uma surpresa.
Outras críticas que têm sido levantadas incluem questionamentos acerca da identidade do designer, suas propriedades e caracterísicas e a coerência da possibilidade desse projetista ser o Deus do teísmo clássico tendo em vista várias aparentes discrepâncias entre o que se esperaria do universo se o mesmo tivesse sido criado por Ele e como ele realmente é. Ainda outra crítica popular afirma que a noção de que o universo é sintonizado para a existência da vida não passa de um mero erro de observação, ou ainda que ele nem sequer é realmente afinado, ou ainda que a seu grau de afinamento não é tão surpreendente ao ponto de precisarmos considerar uma hipótese que apele ao milagre para explica a sua existência.
Veja também[]
Notas
Referências
- ↑ Plantinga, Alvin. TWO DOZEN (OR SO) THEISTIC ARGUMENTS (em inglês) pp. 19. Página visitada em 20 de abril de 2010.
- ↑ Does God Exist? (vídeo) (em inglês). Debate entre William Lane Craig e Peter Atkins. YouTube.
- ↑ 3.0 3.1 3.2 3.3 3.4 Existência de Deus (3/6) Sintonia Fina (vídeo) (em inglês). Entrevista com William Lane Craig. YouTube.
- Collins, Robin. "The Teleological Argument: An Exploration of the Fine-Tuning of the Universe" (pdf) (inglês). Acessado em 4 de março de 2015.