O argumento da criação de um outro Deus é uma versão do paradoxo da onipotência que afirma haver uma contradição entre Deus ser onipotente e a sua unicidade (por isso, o argumento também pode ser chamado de argumento da onipotência versus unicidade de Deus. Muito embora o argumento tenha sido originalmente formulado para ser contra a onisciência divina,[1] ele faz mais sentido quando formulado contra a onipotência.
A versão original do argumento foi disposta da seguinte maneira:
Pode Deus criar um ser igual a si mesmo? (igualmente onisciente como Ele) Pois, se Ele não pode, então Ele não é onisciente, e se Ele não é onisciente então Deus não pode existir.[1]
O argumento pode ser esquematizado da seguinte maneira:
- Se Deus existe, então Ele é onisciente.
- Se Deus é onisciente, então Ele deve poder criar um ser igualmente onisciente como Ele é.
- Mas um ser onisciente como Deus é não pode ser criado [por Deus].
- Logo, Deus não é onisciente.
- Logo, Deus não existe.
O argumento, na versão de onipotência, pode ser esquematizado da seguinte maneira:
- Se Deus existe, então Ele é onipotente.
- Se Deus é onipotente, então Ele pode criar um outro ser como Ele.
- Mas um outro ser como Deus não pode ser criado.
- Logo, Deus não pode criar um outro ser como Ele.
- Logo, Deus não é onipotente.
- Logo, Deus não existe.
Uma outra terceira versão ainda pode ser formulada:
- Se Deus existe, então Ele é onipotente e único.
- Se Deus é onipotente, então Ele pode criar um outro ser como Ele.
- Mas um outro ser como Deus não pode co-existir com Deus, pois este deixaria e ser único.
- Logo, não é possível para Deus ser onipotente e único ao mesmo tempo.
- Logo, Deus não é onipotente ou Deus não é único.
- Logo, Deus não existe.
Para análise desta terceira versão, consulte o argumento da onipotência versus unicidade.
Avaliação[]
O argumento é problemático por alguns motivos. Primeiro, tanto a versão original quando a da onipotência pressupõe que seja coerente a idéia de ser logicamente, mas não realmente possível a criação de um ser onisciente como Deus (em 1) ou outro Deus (em 2). Todavia, tais idéias são logicamente incoerentes. Da mesma forma como segue logicamente que se um ser não pode ser um quadrado se ele é um círculo, segue logicamente que se Deus existe não pode haver outro ser onisciente (1) ou como Deus de qualquer outra maneira (2). Logo, o argumento comete o mesmo erro do paradoxo da pedra: o de pressupor a possibilidade lógica de algo logicamente impossível.
O filósofo e teólogo William Lane Craig também fez alguns comentários sobre os problemas envolvidos neste argumento.[1]
Referências
- ↑ 1.0 1.1 1.2 Can God Learn Anything? (em inglês). Estrelando William L. Craig. Produzido e editado por ReasonableFaith.org e publicado no YouTube por drcraigvideos em 15/03/2011. Visualizado em 15 de março de 2011. Duração: 15:21.