- Nota: Colocar este artigo no artigo sobre experiências pessoais quando este for criado.
O argumento da alucinação (também pode ser chamado de objeção da alucinação, já que normalmente é usado como contra-argumento), embora não seja normalmente apresentado como um argumento e sim como uma simples afirmação, é comumente usado por ateus para explicar, de uma forma que para eles é satisfatória, como as ditas experiências espirituais ocorrem, simplesmente argumentando que não passam de alucinações ou algum outro problema mental.
Se montado num argumento, poderia ser da seguinte forma:
- Os seres humanos são passíveis de sofrerem alucinações.
- É perfeitamente cabível que um ser humano que disse ter passado por alguma experiência sobrenatural tenha ou realmente passado por tal experiência (i.e. ela é verdadeira) ou pode ter tido uma alucinação.
- Experiências sobrenaturais são, por sua própria natureza, milagres.
- Milagres são, por definição, algo muitíssimo improvável de acontecer. Por outro lado, alucinações são, de certa forma, comuns além de serem cientificamente comprovadas.
- Logo, quem afirma que teve uma experiência sobrenatural na prática teve uma alucinação (ou então: provavelmente teve uma alucinação).
Em seu livro Deus, um delírio, o biólogo novo-ateu Richard Dawkins argumentou em favor das alucinações como hipóteses explanatórias para as experiências pessoais[fonte?]. Esquematicamente o argumento seria da seguinte maneira:
- Pessoas alegam ter experiências pessoais sobrenaturais, como sentir a presença de Deus ou ver a Virgem Maria.
- Sabemos, através da ciência, que pessoas podem sofrer alucinações.
- Logo, as pessoas que alegam ter experiências pessoais sobrenaturais estão, na verdade, sofrendo alucinações.
Avaliação[]
Apesar de nunca ter sido formalizado, o seu uso é tão comum que requer uma apologética cristã apropriada para ele. Segue-se as refutações que podem ser apresentadas.
Antes, todavia, de uma análise acurada dos argumentos, uma característica quase sempre presente quando tal objeção às experiências pessoais é apresentada, em especial através de Dawkins, é a ausência de uma estrutura lógica adequada no argumento que acaba por fazê-lo cometer uma falácia non sequitur, i.e. a conclusão não segue das premissas. Como pode ser visto na defesa de Dawkins em Deus, um delírio, sua inferência de alucinações em experiências pessoais é muito mais derivado de sua vontade de dar uma justificativa para não crer no conteúdo de tais testemunhos do que alguma evidência real de que estes são falsos. A constatação, normalmente feita, de que os testemunhos são tentativas reais de falar a verdade e de que a ciência comprovou a ocorrência de alucinações não constitui premissa suficiente para concluir que, por isso, todos os testemunhos de experiência pessoal não descrevem uma realidade verdadeira - como pode ser observado no segundo esquema acima. Para que tal conclusão pudesse ser sustentada com sucesso, antes precisaria-se assumir que a probabilidade de Deus existir é tão pequena que se torna mais provável que, de fato, todas as experiências pessoais sejam alucinações do que milagres (uma visão mais ou menos defendida pelo primeiro esquema do argumento acima). Dessa forma, o argumento não se sustenta, da maneira que comumente é apresentada por Dawkins, por um simples erro de lógica.
Compreensão[]
Basicamente, há um erro de interpretação do que é o argumento de experiência pessoal. Entende-se mais racionalmente este argumento da seguinte forma: se um Deus pessoal existe, então supomos que, de fato, Ele acabaria por se mostrar a nós de certa maneira. Mais do que isso, se não só Deus existe, mas os demônios existem de acordo com a Bíblia, então devemos esperar que, uma vez que se mostrassem, seguissem certos aspectos, certas maneiras de como nós poderíamos identificar que, de fato, tratam de entidades reais e não produtos dos nossos cérebros. O que temos não é um caso ou dois, mas milhões de casos onde exatamente o que nossa "teoria" de ação de seres espirituais (em particular Deus na pessoa do Espírito Santo) havia previsto se cumpriu (na prática, a mesma alegação defendida por evolucionistas no que diz respeito ao avanço da teoria da evolução quando houve o nascimento da genética). Sabemos que sofremos de alucinações; todavia, supôr que estas iriam se encaixar em tamanha quantidade com tamanha perfeição é menos racional e trata-se de uma hipótese muito menos provável do que a existência de Deus e de demônios estar correta. Mais ainda, a hipótese da existência de Deus, se verdadeira, ainda seria capaz de responder a muitos outros questionamentos com tamanho nível de perfeição que torna-se ainda mais racional optar pela hipótese da existência de Deus como a explicação correta para estes milhões de casos de experiências pessoais, tanto entre o Cristianismo como fora dele, do que supor que existam campos de facilitação de ocorrência de alucinações (religiões) ou que ao aceitarmos o batismo no Espírito Santo, desvendamos a "chave da alucinação" em nossas mentes, passando até a ser capazes de controlar quando e como desejamos passar por uma - sem nunca termos sido instruídos.
Ilustrativamente, tem que se, baseados na Bíblia, os cristãos oferecem uma teoria e, uma vez checando-se as evidências tanto do próprio Cristianismo como de outras religiões, encontra-se que as evidências fecham exatamente como a teoria propôs. Logo, da mesma maneira como apologistas do argumento da alucinação como Dawkins defendem a veracidade da evolução baseado nas evidências preditas pela teoria, assim também um crente pode defender a veracidade da existência de Deus.
Todavia, o que um ateu, ao apresentar a objeção das alucinações, está tentando dizer é que existe uma outra hipótese, uma outra teoria que, na prática, seria a teoria correta para explicar estas evidências. Um dos grandes pontos à favor da hipótese das alucinações é que elas são comprovadas cientificamente. Todavia, o fato de que alucinações são possíveis simplesmente não resolve a questão: no máximo, ela "abre as portas" para a possibilidade do argumento da experiência pessoal estar correto. Mais do que apenas apresentar a ocorrência de alucinações como um fato, um ateu deve ser capaz de provar que todas as experiências espirituais foram, na verdade, alucinações, ou então provar que a grande maioria delas o foram (algo como 98%), ou ainda demonstrar que é mais racional aceitarmos que tratam-se de alucinações do que de experiências pessoais.
Todavia, nunca um ateu foi capaz de apresentar alguma base como estas. Segue uma lista de falhas nesta hipótese:
Evidências[]
Tomando-se inicialmente a simples afirmação "é alucinação" como sendo o argumento, conclui-se que, se não é completamente falso, na maioria dos casos trata-se de uma afirmação que pode ser descartada simplesmente por falta de evidências. Em outras palavras, mesmo que seja fato que algumas pessoas tenham alegado que tiveram experiências sobrenaturais e foi constatado, de alguma maneira digna de credibilidade, que se tratava de alucinações ao invés de experiências reais, isso não significa que aquele (i.e. todos os demais) casos se trate de uma alucinação também.
Probabilidade[]
O argumento da probabilidade é irrelevante, uma vez que a afirmação de que milagres são eventos altamente improváveis depende da improbabilidade ou da inexistência de Deus; se um Deus pessoal existe, então milagres são altamente prováveis, especialmente ao redor de pessoas religiosas: exatamente onde eles mais ocorrem. Logo, argumentar que alucinações são mais prováveis do que milagres reais acontecerem é totalmente falso.
Encaixe[]
Dawkins, em seu livro Deus, um delírio, propôs, indiretamente, que a única diferença entre uma alucinação religiosa e a de um louco no hospício é que a de um louco trata-se de uma alucinação muito particular e rara, enquanto que as religiosas são cultivadas e acreditadas por um grande número de pessoas.
Em primeira instância, isso conta exatamente contra Dawkins, uma vez que o simples fato de haver esta distinção já sugere que não trata-se do mesmo evento, mas que há uma diferença entre as alucinações cientificamente atestadas e aquelas que se tem dúvida.
Por outro lado, o argumento de Dawkins consiste numa falácia do espantalho, pois os homens que estão no hospício possuem atestados médicos de detentores de problemas mentais, bem como de comportamento (evidências) de que tratam-se de pessoas com problemas. Por outro lado, as pessoas que passam por experiências religiosas são perfeitamente sadias mentalmente e passam perfeitamente por testes de saúde mental. Logo, nem esta comparação traz algum proveito para a hipótese de alucinações.
Referências
- Craig, William Lane. Was Jesus' Postmortem Appearance Hallucinations? (vídeo) (em inglês). YouTube.
- Richard Dawkins usando o argumento